Imagem tridimensional: Um novo olhar estratégico sobre a identidade masculina 

A imagem masculina, em muitos contextos, ainda é tratada de maneira superficial, reduzida a uma aparência socialmente aceitável ou a códigos visuais estereotipados. No entanto, à medida que cresce a demanda por posicionamento, liderança e autenticidade, torna-se urgente adotar uma abordagem mais profunda, simbólica e estratégica na consultoria de imagem voltada para esse público.

Durante décadas, o reconhecimento masculino esteve ancorado quase exclusivamente em sua identidade intelectual e cultural. A reputação de um homem era construída a partir de sua autoridade técnica, seu conhecimento e sua capacidade de argumentação. A aparência visual, nesse cenário, era irrelevante e, muitas vezes, até propositalmente negligenciada.

Era comum encontrar homens que se orgulhavam do contraste entre uma aparência simples e um conteúdo sofisticado. Nerds dos anos 1990, por exemplo, costumavam receber com orgulho o comentário: “Nossa, eu nunca imaginava que você fosse tão inteligente.” Essa dissonância tornava-se um sinal de poder oculto, uma forma de prazer intelectual em surpreender o outro justamente por não se parecer com aquilo que se é.

Contudo, esse paradigma começou a ruir com a valorização do comportamento visível. Já não bastava ser competente. Era preciso fazer com consistência. O comportamento passou a ter papel fundamental na validação da identidade. Surgiram então os CEOs triatletas, o culto ao 5AM Club, a preocupação com autocuidado, saúde mental e bem-estar. O que se pratica passou a comunicar tanto quanto o que se é.

A presença começou a ser julgada não apenas pelo discurso ou pelo currículo, mas também pelos hábitos, pela energia transmitida e pela coerência entre palavra e ação. O comportamento visível tornou-se prova prática daquilo que antes era apenas declarado.

O comportamento passou a ter papel fundamental na validação da identidade (Origem da imagem: Canva Pro).

 

Mesmo com essas duas camadas (identidade e comportamento) alinhadas, muitos homens ainda enfrentavam julgamentos equivocados. Faltava clareza na leitura simbólica da imagem. A aparência não refletia, com fidelidade, as camadas mais profundas.

Nesse cenário, a pandemia acelerou um movimento inevitável. A imagem tornou-se o primeiro canal de leitura nas relações sociais e profissionais. Com o aumento das videochamadas, das lives e das reuniões online, homens que até então não tinham o hábito de se observar começaram a se ver diariamente pela tela. E não apenas a se ver, mas a se analisar com um olhar novo, mais crítico e mais consciente.

Nesse espelho digital, muitos perceberam um desalinhamento entre o que são, o que fazem e o que projetam visualmente. A aparência, antes ignorada ou até celebrada por sua simplicidade, passou a ser percebida como fator essencial para gerar confiança, respeito e clareza na comunicação.

O elogio mudou. Deixamos para trás frases como “nunca imaginei que você fosse tão bom assim” e passamos a considerar ideal o reconhecimento: “eu pensei exatamente isso sobre você quando te vi.” Quando a imagem externa reflete com precisão a identidade e o comportamento, a leitura simbólica flui. A mensagem está clara.

É nesse contexto que surge o conceito de Imagem Tridimensional Masculina. Trata-se de uma abordagem que entende o homem como uma obra em constante construção, composta por três camadas integradas: Ser, Fazer e Parecer. Mais do que uma sequência linear, essas dimensões funcionam de forma simultânea e interdependente, revelando o todo com coerência, profundidade e autenticidade.

Essa metodologia foi desenvolvida com base em experiências reais de consultoria, estudos sobre linguagem simbólica, comportamento masculino e estratégias visuais aplicadas à identidade. Seu objetivo é reposicionar a imagem do homem contemporâneo com sensibilidade, técnica e intenção estratégica.

A metáfora da escultura: da matéria-prima à obra-prima

Construir a imagem de um homem é como esculpir uma estátua em mármore. O Ser é o bloco bruto, carregado de história, essência e valores. O Fazer é o entalhe, são as ações, hábitos e escolhas que vão moldando essa pedra. O Parecer é o acabamento, o brilho, a textura e o detalhe final que tornam a obra admirável e respeitável.

O papel do consultor nesse processo é o de artesão atento à natureza do material. Cabe a ele reconhecer o tipo de mármore que tem em mãos, compreender seu potencial e aplicar as ferramentas certas para revelar, e não inventar, uma imagem autêntica.

Ser: a identidade interna

O Ser é a camada invisível que sustenta toda a imagem. Representa os valores, crenças, repertório cultural, motivações e história de vida. Essa dimensão constitui o alicerce da autenticidade.

Para o consultor, essa investigação simbólica é o ponto de partida. Com perguntas como “quais histórias moldaram esse homem?”, “em que ele acredita?” e “que tipo de conteúdo o inspira?”, é possível construir um mapa de identidade capaz de guiar todas as demais decisões do processo.

Essa é a camada da verdade interna, a essência que não muda com tendências ou estações.

Fazer: o comportamento que reforça ou sabota

O Fazer traduz em ações aquilo que se é. Envolve rotina, hábitos alimentares, cuidados pessoais, qualidade do sono, postura diante dos desafios, presença em ambientes profissionais e sociais, coerência entre discurso e prática.

Essa camada oferece dados concretos sobre a credibilidade do cliente. Não basta afirmar que valoriza sofisticação se, na prática, vive de forma displicente. Não adianta dizer que prioriza saúde se negligencia o cuidado básico com o corpo.

O consultor atua como observador estratégico. Ao mapear comportamentos e propor ajustes viáveis, ele torna o projeto de imagem realista, sustentável e condizente com o estilo de vida do cliente.

Parecer: a expressão simbólica e estética

O Parecer é a camada mais visível da imagem. Representa a forma como o homem se apresenta ao mundo por meio das roupas, cortes de cabelo, cores, acessórios, proporções e códigos visuais.

Quando essa camada é desconectada das anteriores, a imagem soa artificial. Quando está alinhada com o Ser e o Fazer, a estética ganha profundidade simbólica e força comunicacional.

O papel do consultor aqui é traduzir visualmente a identidade e o comportamento do cliente, utilizando ferramentas como visagismo, coloração pessoal, análise morfológica, dress code e estilo. O objetivo não é criar personagens, mas revelar com precisão quem o cliente já é e como ele pode ser percebido com mais clareza.

Mini-caso simbólico

Durante uma consultoria, um executivo do setor de logística, ao ouvir a leitura de sua identidade simbólica construída a partir de sua narrativa pessoal, reagiu com emoção e surpresa. Ele disse: “Esse aí sou eu?” Pela primeira vez, percebeu que sua imagem projetada não refletia o homem que havia se tornado. Ele se via como um entregador de carga, mas era, na verdade, pai, líder e empresário de sucesso. Essa mudança de percepção só foi possível porque as três camadas, Ser, Fazer e Parecer, foram exploradas em conjunto.

 

O Fazer traduz em ações aquilo que se é (Origem da imagem: Canva Pro).

Citação técnica

Como afirmou Carl Rogers, psicólogo humanista, a curiosa paradoxalidade é que, quando aceitamos quem somos, então nos tornamos capazes de mudar. Esse princípio nasceu de sua prática clínica. Em sua abordagem centrada na pessoa, Rogers observou que clientes só conseguiam experimentar mudanças profundas quando se sentiam plenamente aceitos em sua essência, sem máscaras ou julgamentos. Sua conclusão foi clara: a aceitação genuína da identidade é condição para qualquer transformação autêntica. No campo da consultoria de imagem, essa perspectiva legitima o Ser como fundamento. Antes de propor ajustes no exterior, é necessário validar e reconhecer a identidade interna do cliente.

Complementarmente, a psicologia junguiana sugere que símbolos arquetípicos emergem de um inconsciente coletivo, um repertório de imagens universais compartilhadas pela humanidade e que influencia como percebemos e interpretamos os outros. Em paralelo, estudos neurocientíficos mostram que o tálamo desempenha papel crucial na integração sensorial, funcionando como um filtro que organiza estímulos visuais, auditivos e táteis antes que alcancem a consciência. Atuando em conjunto com o sistema límbico, ele atribui valor emocional a essas percepções, permitindo que símbolos e sinais visuais sejam processados não apenas de maneira racional, mas também em nível afetivo e simbólico. Isso reforça que a leitura de uma imagem atravessa tanto aspectos cognitivos quanto biológicos, consolidando a ideia de que o Parecer tem raízes profundas na forma como construímos significado.

Na esfera da psicologia social, Nalini Ambady e Robert Rosenthal (1993) demonstraram, em um estudo hoje clássico, que julgamentos rápidos são altamente confiáveis. Em seu experimento dos chamados thin slices of behavior, voluntários assistiram a clipes silenciosos de apenas 30 segundos com professores universitários. Mesmo sem ouvir o conteúdo das aulas, foram capazes de avaliar carisma, competência e simpatia. Os resultados dessas avaliações se correlacionaram fortemente com as notas reais atribuídas por alunos que conviveram com os professores durante todo o semestre. A pesquisa mostrou que, em questão de segundos, sinais não verbais já fornecem informações consistentes sobre credibilidade. Isso comprova que o Fazer e o Parecer são percebidos imediatamente e influenciam fortemente a reputação.

De forma complementar, Naumann, Vazire, Rentfrow & Gosling (2009) investigaram a influência da aparência física e do estilo pessoal sobre julgamentos de personalidade. Em seu estudo, grupos de observadores avaliaram fotografias de corpo inteiro de diferentes indivíduos. Apenas com base em roupas, postura, expressão corporal e estilo visual, foram capazes de inferir com precisão traços como extroversão, autoconfiança e simpatia, posteriormente confirmados por autorrelatos de personalidade. A pesquisa mostrou que escolhas estéticas e linguagem corporal não são neutras: elas comunicam informações legítimas sobre identidade e comportamento. Para a consultoria de imagem, a conclusão é direta: o Parecer não pode ser tratado como uma camada superficial ou decorativa, mas sim como a expressão visível do Ser e do Fazer. Em conjunto com as evidências apresentadas, fica claro que identidade (Rogers), símbolos arquetípicos (Jung e neurociência), impressões rápidas (Ambady) e escolhas visuais (Naumann) apontam para a mesma direção: a imagem masculina precisa ser compreendida como uma construção integrada. É nesse ponto que o conceito de Imagem Tridimensional Masculina se fortalece como modelo estratégico para alinhar autenticidade, comportamento e estética.

Aplicações práticas na consultoria de imagem

Para colocar esse conceito em prática, recomenda-se investigar profundamente o Ser por meio de entrevistas simbólicas, imagens-projeção, questionários e escuta ativa. Também é necessário mapear comportamentos do Fazer com foco em rotina, hábitos, presença e postura. Já no Parecer, o trabalho deve se concentrar em traduzir a identidade real do cliente utilizando linguagem estética estratégica e simbólica.

Além disso, o consultor deve avaliar presença digital, comunicação não verbal, ambientes frequentados e códigos sociais com escuta sensível e olhar expandido. O visual deve ser construído como tradução da identidade, não como disfarce.

Exemplos adicionais de desalinhamento entre camadas

– Um homem com essência refinada, mas aparência negligente, terá sua imagem invisibilizada em contextos profissionais.
– Um líder com comportamento proativo, mas visual genérico, pode não transmitir o impacto que de fato exerce.
– Um jovem executivo que investe em roupas sofisticadas (Parecer), mas mantém hábitos incoerentes com sua posição (Fazer), pode ser percebido como artificial.
– Um acadêmico de alta competência intelectual (Ser), mas com visual excessivamente desalinhado, corre o risco de ter sua credibilidade subestimada.

O papel do consultor é alinhar as camadas, trazendo consistência entre identidade, atitude e estética.

Trabalhar a imagem de um homem é, acima de tudo, um processo de respeito à sua identidade. Não se trata de seguir fórmulas prontas ou aplicar padrões fixos. Trata-se de reconhecer a matéria-prima, entender seu contexto e lapidá-la com técnica, sensibilidade e propósito.

Ser e Fazer constroem a essência. Parecer a revela.

A Imagem Tridimensional Masculina respeita a complexidade do homem contemporâneo. Vai além da estética e propõe uma atuação simbólica, profunda e estratégica. Quando as camadas estão desalinhadas, a imagem falha. Quando estão integradas, a presença se torna poderosa.

Quando Ser, Fazer e Parecer caminham juntos, a imagem deixa de ser apenas estética e se transforma em presença estratégica. É nesse ponto que o homem contemporâneo se reconhece e também é legitimamente reconhecido.

O visual deve ser construído como tradução da identidade, não como disfarce (Origem da imagem: Canva Pro).

Este artigo foi escrito por André Cerbasi

André Luiz Cerbasi de Almeida é consultor de imagem, especialista em coloração pessoal,
visagismo e posicionamento estratégico no ambiente televisivo e digital. Com atuação no
Brasil, Europa e Estados Unidos, tornou-se referência em imagem masculina e identidade
visual aplicada ao contexto profissional. Foi o primeiro consultor de imagem a se tornar
imortal da Academia Brasileira de Ciências, Artes, História e Literatura (ABRASCI),
ocupando a cadeira 88, além de ter recebido uma Moção de Aplauso da Assembleia
Legislativa em reconhecimento à sua contribuição para a área. Sua trajetória inclui
atendimentos a CEOs, executivos, grandes nomes do digital e artistas da TV, sempre com
foco em alinhar Ser, Fazer e Parecer — a tríade que fundamenta sua teoria autoral da
Imagem Tridimensional Masculina. Visionário e prático, André conecta técnica, simbologia e
estratégia para transformar a percepção de homens contemporâneos e ampliar seu valor no
mercado.

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