O poder da Voz

Neste mês de julho nossa entrevistada é a renomada fonoaudióloga Leny Kyrillos. Com a competência que lhe é peculiar falou sobre linguagem verbal e não-verbal de modo a enriquecer nosso conhecimento sobre o tema!

Abordou o tema vídeos e podcasts, duas ferramentas para as quais temos de voltar nossa atenção quando o assunto é imagem.

O resultado do trabalho é, sem dúvida alguma, extremamente agregador! Confira!

1 – Qual o impacto da voz na imagem de uma pessoa?

Quando nos comunicamos, construímos percepção. Esse fato é extremamente importante por três razões. Primeiro, porque é muito rápido. É nos primeiros segundos de contato que o outro é impactado e gosta ou desgosta, confia ou desconfia. Segundo, é algo que ocorre de modo absolutamente inconsciente. Terceiro, assim que construímos percepção, geramos uma reação no nosso interlocutor. Chamamos esse processo de expressividade. E ele é o resultado do uso de recursos verbais, ou seja, as palavras que utilizamos, a forma como elaboramos as frases; de recursos vocais, caracterizados pela maneira como falamos (tom da voz, velocidade de fala, intensidade…) e não verbais, referentes à nossa imagem, abarcando o nosso ambiente, a roupa que utilizamos, os acessórios, e o nosso corpo (postura, gestos, expressão facial…). A imagem é extremamente importante, porque antes mesmo de abrirmos a boca, ela já constrói percepção. Ao falarmos, a voz impacta grandemente, estando de acordo com a imagem…  Ou não! Quando há concordância, o outro reforça a impressão que teve. Quando há discrepância, ou seja, uma voz muito diferente do que se imagina associada àquela imagem, gera muito estranhamento.

 

2 – O que é considerada uma “boa voz”?

Uma boa voz é aquela que nos faz sentir efetivamente representados pela percepção que constrói. Ela deve ser eficiente do ponto de vista de alcance, e ser produzida com conforto, sem nenhum esforço.

 

3 – É possível mudar a voz de alguém?

Sim! A voz é fruto da nossa história de vida, e assim se modifica continuamente. É também um comportamento aprendido, e por isso passível de mudança. Há vários fatores, físicos ou emocionais, que podem interferir na qualidade de nossa voz. Quaisquer desses fatores podem ser melhorados, trabalhados, para que nos sintamos efetivamente representados pela voz que produzimos.

Em minha rotina de atuação profissional, tenho o prazer e o privilégio de acompanhar muitos desses processos. É recompensador! Quem se percebe identificado com a imagem que produz sente-se mais feliz.

 

4 – A voz é reflexo da cultura e personalidade. Você pode falar mais sobre isto?

A voz é uma das projeções mais fortes de nós mesmos, e ela nos “escancara” para o mundo. Nossa voz é única, grande sinal de nossa individualidade. Há várias possibilidades de ajustes que podemos realizar para produzirmos a voz.  O que ocorre é que cada um de nós faz uma “escolha”, inconsciente, de um determinado ajuste, que passa a nos representar. Essa “escolha” é influenciada por três dimensões da nossa vida: a física, que tem a ver com a nossa estrutura corporal; a psicoemocional, que tem a ver com nossa personalidade, nosso modo de vermos o mundo, e a sociocultural, relativa às pessoas significativas do nosso entorno. Esse trio de dimensões é tão particular pra cada um de nós, que não existe uma voz igual a outra; ela é tão única quanto a nossa impressão digital.

A partir dessa “escolha”, passamos a produzir um efeito em nosso corpo, quando falamos, e um impacto no nosso interlocutor. Nosso sucesso ou insucesso nas nossas relações, nas nossas conquistas, tem muito a ver com esse impacto. Por isso é tão importante observarmos quais são os sinais que emitimos, e os resultados que obtemos. Eles sempre são proporcionais!

 

5 – Qual o impacto da linguagem corporal na mensagem que desejamos transmitir?

Segundo pesquisas clássicas na área de comunicação, o não verbal impacta 55% no resultado final! É muito poderoso… E nossa grande busca é cuidarmos de cada grupo de recursos, para atingirmos seu desenvolvimento, mas principalmente buscarmos a harmonia, a coerência entre eles, para efetivamente termos uma comunicação assertiva.

 

6 – Estamos num mundo cada vez mais visual e nossa capacidade de manter a atenção sobre um mesmo tema está comprovadamente menor. Que mudanças temos que fazer para nos adequar a este novo tempo quando usamos a fala como recurso de comunicação?

O mundo que vivemos hoje é extremamente rico em estímulos, globalizado, repleto de ruídos. A única maneira de nos tornarmos mais relevantes, de nos sobrepormos a esse “mar” de estímulos, é usarmos uma comunicação simples, direta e objetiva, que atinja facilmente o cérebro do outro. Numa competição assim, o estímulo que ganha é o que chega fácil! Tem a ver com a forma como o nosso cérebro responde aos estímulos.

Assim, nas situações relevantes de comunicação, eleja previamente as mensagens que pretende passar. Selecione palavras de uso mais habitual, evite termos técnicos, estrangeirismos, termos difíceis ou pouco conhecidos. Construa frases curtas, na ordem direta, na voz ativa. Ouça ativamente o seu interlocutar, identifique suas necessidades, suas demandas, seus interesses… E entregue efetivamente o que ele espera, o que fará sentido para ele, o que vai contribuir! E, acima de tudo, fale com amor e empatia, genuinamente interessado em se fazer entender.

 

7 – Os vídeos de curta duração e os “podcasts” vêm ganhando muito espaço quando o assunto é marketing de conteúdo. Que conselhos você daria para as pessoas que usam, ainda de modo bastante intuitivo, esta forma de comunicação?

Os vídeos e podcasts são meios efetivos, rápidos e práticos de comunicação. Eles nos permitem atingir grande número de pessoas, e transmitir as nossas mensagens com expressividade e clareza. Porém, para isso, é necessário que haja uma boa preparação.

A situação mais privilegiada de comunicação é a presencial, o olho no olho. Nesta, conseguimos identificar claramente como o outro está recebendo a nossa mensagem, e podemos ir adequando a nossa fala de acordo com essa observação. Quanto mais estamos distantes do nosso interlocutor, e quanto mais interlocutores nós temos, mais devemos caprichar nos sinais que emitimos. Assim, destaque as mensagens que pretende passar, e as embase com dados, exemplos, analogias, boas histórias. Fale de maneira clara, com tom agradável, articulação caprichada. Evite a monotonia, enfatizando os trechos mais importantes. Cuide para o que seu corpo demonstre abertura e vontade de interagir: olhe o tempo todo para a câmera, mantenha a postura ereta confortável, com o tronco voltado para ela. Mantenha os braços soltos para produzir gestos simbólicos e marcadores das ênfases. Mantenha a expressão facial serena e com modificações de acordo com o conteúdo. Acima de tudo, envolva-se efetivamente com aquilo que está dizendo, fale com convicção e boa vontade. Comunicação contagia! Plante amor e entusiasmo ao falar, e será exatamente isso que você irá colher.


 

lenyLeny Kyrillos é Fonoaudióloga pela Universidade Federal de São Paulo, Especialista em Voz pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia e Mestre e Doutora em Ciências dos Distúrbios da Comunicação pela Universidade Federal de São Paulo. Leny é comentarista semanal na Rádio CBN na coluna “Comunicação e Liderança” e coautora dos livros “Voz e Corpo na TV – A fonoaudiologia a serviço da comunicação” (editora Globo – 2003 e “Comunicar para Liderar” (editora Contexto – 2015).

 

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