A Sustentabilidade na Consultoria de Imagem

Quando fiz um curso sobre tendências de comportamento no Fashion Institute of Technology (FIT) em Nova York, lá em 2007, falava-se que a maior macrotendência da década seria a sustentabilidade. Ou como eles chamavam: “The Greening of America”. Na época, tive minhas dúvidas se isso de fato seria tão representativo nos Estados Unidos e se chegaria um dia ao Brasil. Vivíamos um avanço expressivo no varejo, a classe média tinha mais acesso ao crédito e satisfazia uma demanda reprimida, consumindo como se não houvesse amanhã. O consumo consciente definitivamente não passava pela cabeça dos brasileiros naqueles tempos.

Hoje, porém, 10 anos depois, percebo que os professores do FIT tinham razão. Desde a cor do ano escolhida pela Pantone ser inspirada na natureza – o Greenery – até o tema das três principais palestras da Conferência Global da Associação Internacional dos Consultores de Imagem (AICI), que girou em torno da sustentabilidade. Nunca se falou tanto nesse assunto, o impacto da moda no meio ambiente, consumo com propósito, transparência nas marcas, responsabilidade social… Inclusive no Brasil, haja visto o sucesso do livro “Moda com Propósito” de André Carvalhal.

Mas de onde vem todo esse movimento? Vem do comportamento das novas gerações. O conceito de “pegada ecológica”, criado em 1996, foi introduzido nas escolas alguns anos depois. Gerando uma preocupação constante com o meio ambiente, uma consciência de que os recursos naturais são finitos e a percepção que para se ter um mundo melhor, dependemos de nós mesmos. Esse comportamento dos mais jovens vem influenciando a todos, mostrando que a responsabilidade sobre o planeta é não somente dos governos, e sim de todos indivíduos – das empresas também.

Qual o conceito de sustentabilidade, afinal? É amplo, mas vamos resumir: trata-se da capacidade do ser humano interagir com o mundo, preservando o meio ambiente para não comprometer os recursos naturais das gerações futuras. É complexo, pois atende a um conjunto de variáveis interdependentes. Podemos dizer que deve ter a capacidade de integrar as questões sociais, energéticas, econômicas e ambientais. Para que um empreendimento humano seja considerado sustentável, é preciso que ele seja:

  • Ecologicamente correto
  • Socialmente justo
  • Culturalmente diverso
  • Economicamente viável

O que tudo isso tem a ver com a moda e a consultoria de imagem? A moda está entre as cinco indústrias mais poluentes do planeta, devido, por exemplo, à química usada para o tingimento dos tecidos que é jogada nos rios; à produção do algodão que, além dos agrotóxicos usados nas plantações, consome muita água (1 camiseta de algodão usa cerca de 26 litros de água); ao crescimento da moda descartável gerando uma enorme quantidade de lixo. Além das condições de trabalho nas confecções mundo afora, que motivou a criação da semana Fashion Revolution, com a campanha ‘Quem Fez Minhas Roupas?’, que busca abrir os processos de criação para compreender as condições de trabalho.

Ao mesmo tempo, a moda é uma indústria extremante inovadora e transformadora, pois o modo de se vestir representa o limite entre o ser humano e a sociedade, significa a estética do comportamento. Portanto, trata-se de um poderoso meio de comunicação das pessoas através dos tempos. O tal Zeitgeist, que representa o espírito de uma época, a verdadeira tendência de comportamento. Como não se aproveitar disso para tentar mudar o mundo para melhor?

Como consultores de imagem, temos esse papel e podemos fazer diferença através de nosso trabalho também. Seguem aqui 11 dicas importantes:

  • Tentar aproveitar ao máximo o que o cliente já possui, criando novos looks antes de ir as compras.
  • Incentivar e influenciar o cliente a repetir roupas.
  • Trabalhar o conceito de guarda-roupa cápsula, em que uma peça pode ser usada de diversas maneiras, looks e combinações diferentes.
  • Tentar transformar as peças que a cliente não usa mais em coisas novas, através de customização ou upcycling.
  • Se for doar, aconselhar a cliente a pesquisar bem pra onde e qual será o destino final das roupas, para não ir pro lixo.
  • Procurar feiras de trocas ou vender em brechós.
  • Se for às compras, procurar peças de boa qualidade, duráveis e atemporais (cores mais neutras e modelos mais clássicos).
  • Procurar por marcas sustentáveis. Existem diversas opções, inclusive peças de alto luxo. Veja esse site com algumas opções em todo o Brasil: slowdownfashion.com.br
  • Lembrar sempre: o melhor tecido é aquele que já existe. O documentário “Desacelerando a Moda” fez uma ampla pesquisa sobre qual a fibra de tecido mais sustentável, chegaram à conclusão que era a lã, mas isso pode mudar de tempos em tempos (como aconteceu com o algodão). Portanto o ideal mesmo são os tecidos reciclados.
  • Consultar as etiquetas de composição, para se informar sobre onde é feita aquela roupa (quanto mais perto melhor, pois consome menos combustível no transporte e favorece o comércio local); e qual a composição do tecido (quanto mais natural ou reciclado, melhor).
  • Exigir transparência das marcas! Elas só vão mudar quando a pressão do consumidor for significativa e impactar nas vendas. Nos Estados Unidos, uma pesquisa da Edelman mostrou que 62% dos consumidores não compram de marcas que não cumprem as normas sociais. O marketing de causa tem crescido, contudo ele precisa ser verdadeiro e estar no DNA da marca. Segundo a PwC, hoje 80% dos consumidores se preocupam com a situação do mundo no futuro, e estão começando a protestar com seu dinheiro.

Enfim, termino com uma frase da palestrante da AICI, Stacy Flynn, em seu TEDx Talks – Clothing Will Save Us: “Se uma pessoa pode causar tanto dano involuntariamente ao meio ambiente, imagine o bem o que essa mesma pessoa pode fazer intencionalmente? Nós criamos o nosso futuro.”

Imagem da capa: Maiyet Fashion Show, Ready to Wear Collection Spring Summer 2016 in New York Maiyet Fashion Show, Ready to Wear Collection Spring Summer 2016 in New York.


Este artigo foi escrito por Silvia Scigliano, AICI CIC

Consultora de Tendências e Negócios de Moda, Silvia Scigliano morou cinco anos em NY, quando atuou no varejo e atacado, também se dedicou à consultoria de moda e imagem, certificando-se pelo Fashion Institute of Technology e AICI. De volta a São Paulo, presta consultoria em design e desenvolvimento de produto nos setores de moda e cosméticos.

17 respostas

  1. Tive a oportunidade de visitar algumas lojas em Nova Iorque com você e viver essa experiência. Sim, a conscientizacao do bem que as marcas podem fazer ao meio ambiente é significante, acessível e prazeirosa . Parabéns pelo seu trabalho!!

  2. Parabéns pelo artigo e pelo seu trabalho, Silvia querida. A vivência que vocês nos passaram no NYFT, visitando empresas que já trabalham de forma sustentável foi uma experiência incrível e que agora estamos repassando para nossas clientes. ??????

  3. Silvia, muito interessante o seu artigo. Escrito com propriedade e conhecimento de causa. Parabéns!

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