Compreender e interpretar as pessoas são tarefas um tanto quanto engenhosas, além de grandes desafios. Isso porque temos a tendência de olhar para tudo e todos conforme nossas vivências, crenças e valores. Entretanto, para conhecer e compreender melhor o outro, precisamos sair da bolha das “nossas certezas” e ampliar o nosso campo de visão.
Essa capacidade interpretativa e de compreensão é superimportante na Consultoria de Imagem, afinal, precisamos entender aquela pessoa que nos procura em sua integralidade, com o máximo de empatia, para construir uma relação de valor, que contribua de forma positiva na transformação dela e com uma entrega UAU!
Cada cliente possui sua subjetividade, ao mesmo tempo que faz parte de um meio social e de um sistema. Todos esses aspectos são fatos e dados que devem ser observados, bem como considerados tanto nos mínimos detalhes como de forma sistêmica para melhor compreensão do cliente e suas demandas.
Alguns de nós têm como primeira formação a psicologia, outros são coaches, outros cientistas sociais, o que contribui muito nessa empreitada de compreensão e interpretação do cliente. Todavia, muitos outros não possuem essas formações e precisam de mais consistência e fundamento para sair do olhar ensimesmado. Para tanto, podemos usar ferramentas valiosas de vários outros campos do saber com o objetivo de aprimorar ou desenvolver essa capacidade.
O trabalho de imagem tangencia várias áreas do conhecimento e podemos enriquecer nosso trabalho trazendo mais embasamento científico dessas outras áreas. Cada vez mais, veremos esse hibridismo nas profissões. Esse é o meu objetivo neste artigo. Exerci a advocacia durante 12 anos, sou pesquisadora de filosofia, ciências humanas e comportamentais e, vez ou outra, “pego emprestado” métodos e fundamentos de outros campos para aplicar na Consultoria de Imagem.
Vocês já ouviram falar de Hermenêutica? Calma, é uma palavra esquisita, mas vou explicar tim-tim por tim-tim seu significado e como ela pode nos ajudar a compreender e interpretar tudo aquilo que nos é repassado por nossos clientes.
Conforme a Wikipédia, “Hermenêutica é um ramo da filosofia que estuda a teoria da interpretação, que pode se referir tanto à arte da interpretação quanto à prática e treino de interpretação. A hermenêutica tradicional se refere ao estudo da interpretação de textos escritos, especialmente nas áreas de literatura, religião e direito.”
Numa linguagem bem simples, a hermenêutica nos concede fundamentos para aprendermos a arte de interpretar e compreender, o que exige de nós boa vontade e bastante treino. No entanto, uma vez incorporada essa habilidade, aprendemos a observar mais e julgar menos, paramos de olhar o mundo e as pessoas à nossa volta, de acordo com a nossa perspectiva apenas. Resultado: ampliamos o olhar e passamos a ter muito mais empatia.
Muito embora tenha vindo de áreas como literatura, religião, direito e filosofia, a hermenêutica contemporânea não é aplicada apenas a textos escritos, mas também à formas verbais e não-verbais de comunicação. A hermenêutica filosófica refere-se principalmente à teoria do conhecimento de Hans-Georg Gadamer, filósofo alemão, desenvolvida em sua obra verdade e método. Já no direito, a obra mais emblemática é do jurista Carlos Maximiliano.
O termo hermenêutica provém do verbo grego “hermeneuein” e significa interpretar, esclarecer, traduzir. Significa que alguma coisa é “tornada compreensível ou levada à compreensão.” (Wikipédia)
Onde há linguagem (verbal ou não-verbal) é necessária a interpretação. Então, vejamos a seguir, como as formas de interpretação clássica (os métodos de hermenêutica), podem nos ajudar na compreensão do nosso cliente. É muito importante pra começo de conversa atentarmos para duas questões:
1ª) o fato ou dado que estamos interpretando está sendo comunicado pela própria pessoa ou por terceiro? Aqui toda atenção é pouca, porque podemos ouvir um mesmo fato com narrativas bem diferentes e isso não quer dizer necessariamente que alguém está mentindo, mas tão-somente que cada um está expondo seu ponto de vista. Esse já é um primeiro grande exercício, conseguir compreender e respeitar que as pessoas tem versões diferentes e que, a princípio, não há nada de errado nisso.
2ª) temos que tomar cuidado para não aumentar (estender) ou diminuir (restringir) a informação dada. Para tanto, é importante checarmos com o(s) cliente(s) e procurarmos esclarecer melhor as informações.
Cientes desses cuidados, passemos aos métodos em si. São cinco os métodos que podemos usar, um não exclui o outro e todos juntos vão nos trazer um olhar mais aberto e flexível para nossos clientes:
A)Interpretação Sistemática– aqui a orientação é para você procurar olhar os fatos e dados dentro do sistema ao qual eles e o cliente pertencem. Observe o contexto em que seu cliente está inserido. Qual seu estilo de vida, em que ambiente vive, de onde é, com que trabalha, como é sua personalidade, sua casa, seu ambiente de trabalho. Procure ver aonde os pontos se aproximam, busque a coerência que há entre eles e também o que está fora;
B)Interpretação Teleológica– também chamada interpretação finalística. Nesta etapa, procure se concentrar na finalidade. Qual a verdadeira intenção, objetivo, propósito do cliente, diante dos fatos e dados, da forma de olhar a vida e diante da expectativa com o trabalho;
c)Interpretação lógica– aqui o maior esforço é se afastar de pensamentos fantasiosos seus e dos seus clientes. Procure entender as razões, a motivação, as causas determinantes de suas ações;
d)Interpretação histórica e sociológica– quem é esse cliente ou esses clientes que estão falando com você? Qual sua geração, seu gênero, de qual cultura faz parte, como foi educado, quais seus valores? Procure conhecer sua história e os ambientes sociais aos quais já fez e faz parte;
e)Interpretação literal– também chamada de gramatical, essa é a mais simples de todas. É a interpretação ao pé da letra.
Claro que, além de toda essa metodologia, estar presente de fato e de coração, com escuta ativa e foco no cliente são atitudes essenciais que vão contribuir significativamente para você aperfeiçoar e desenvolver sua capacidade interpretativa, flexibilizar seu olhar, mitigar seus vieses e ter muito mais empatia com esse ser-humano que está confiando a você sua história, sua intimidade, suas inseguranças e vontade de melhorar. Espero que a hermenêutica contribua para o crescimento pessoal e profissional de você consultor, flexibilizando seu olhar diante da vida e da história de valor de cada um.
Bibliografia:
Hermenêutica e aplicação do direito- Carlos Maximiliano- Ed. Forense
Formas de Interpretação do Direito- artigo de Nicolle Duek Silveira Bueno
Site jus.com.br
Wikipédia
Lu Sampaio, Consultora de Imagem Pessoal e Profissional, especialista em Comunicação Intra e interpessoal. Advogada. Professora da Faculdade Santa Marcelina. Palestrante e pesquisadora na área de Comunicação, Comportamento Humano e Moda. Pós graduada em Styling e Fashion Image e em Direito.