Diversidade e Inclusão com Andrea Schwartz

Diversidade e inclusão são conceitos cada vez mais importantes e vemos cada vez mais consultores de imagem se envolvendo em diferentes causas e ampliando seus serviços para atingir novos públicos. Por este motivo, convidamos a Andrea Schwarz – 42 anos presidente e sócia fundadora da i.Social, para nos contar um pouco sobre sua história e seus projetos.

  1. Você desenvolve um trabalho de extrema importância no sentido da inclusão. Fale-nos um pouco como começou a i.Social e por que é sucesso hoje 

Vivi uma vida normal até meus 22 anos de idade. Em setembro de 1998, quando estava prestes a me formar em Fonoaudiologia, acabei me tornando cadeirante. Foi um choque! Demorou para eu entender o que estava acontecendo. Não andar nunca mais, depender de uma cadeira de rodas, me tornar uma pessoa com deficiência não estava nos meus planos. Aos poucos comecei a entender que essa seria minha nova condição a partir daquele momento e que os desafios seriam muito grandes. Me aceitar desta nova forma era o principal. Tive muito apoio da minha família e do meu namorado Jaques Haber que me ajudaram a entender que a Andrea continuava a mesma apesar de não poder andar mais.

Me lembro de duas frases que marcaram essa fase.

A primeira da minha mãe que me disse: “Nós não vamos olhar para trás! Vamos olhar apenas para a frente e valorizar cada pequena nova conquista”. Isto me ajudou a mudar radicalmente minha perspectiva de vida. Me lembro comemorando a primeira vez que voltei a ficar sentada na cama, sem cair para trás. Foi fruto de muito esforço na fisioterapia. Aprendi a valorizar e celebrar pequenas vitórias, que para mim eram gigantes.

A segunda frase foi do Jaques. Ainda no hospital ele me falou: “Não importa se você está de pé, sentada ou deitada. Para mim você é a mesma Andrea e eu te amo!”. Isso me tocou fundo, levantou minha autoestima e me mostrou a força do amor. Entendi que tinha um grande companheiro ao meu lado, não apenas um namorado, e que teria que ser forte para manter nossos planos de vida que tínhamos sonhado até então.

Passados quase um ano de foco exclusivo em minha reabilitação eu e o Jaques tivemos uma ideia. Escrever um guia da cidade de São Paulo voltado para pessoas com deficiência. Quando saíamos juntos ou com nossa família e amigos tínhamos muita dificuldade para encontrar informações sobre locais acessíveis e sempre passávamos por dificuldades. Falta de acesso, banheiros adaptados, atendimento preferencial, entre outras questões importantes para quem, assim como eu, tinha dificuldades de locomoção.

Pegamos nosso carro e começamos a mapear a cidade sob o ponto de vista da acessibilidade. Um ano depois conseguimos patrocínio do Grupo Pão de Açúcar e no final de 1999 lançamos o Guia São Paulo Adaptada, a primeira publicação voltada a pessoas com deficiência que trouxe informações de acessibilidade de mais de 1000 estabelecimentos em São Paulo, além de mapear todos os serviços essenciais, como por exemplo a questão de como conseguir isenção para compra de automóveis e como conseguir emprego por meio da Lei de Cotas.

O Guia foi um grande sucesso e a partir daí o diretor de marketing do Grupo Pão de Açúcar nos chamou para prestar consultoria para as lojas no sentido de preparar a acessibilidade e treinar os funcionários para atender bem clientes com necessidades especiais.

Essa foi a origem da i.Social, consultoria que abrimos, eu e o Jaques, para atender essa primeira demanda e que se especializou na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

Pela minha própria experiência de vida, entendi a importância do trabalho em minha vida, em minha reabilitação. Ao trabalhar, a sensação de me sentir ativa, ocupada, produtiva, nos fez quase esquecer que estava na cadeira de rodas. Surgia daí uma nova Andrea. A grande diferença? Havia encontrado em meu trabalho o propósito da minha vida. Ajudar a transformar o mundo em um lugar mais inclusivo, justo e democrático, pensado para todos.

  1. Você esteve em NY, na sede da ONU no dia em que se comemora O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. Conte-nos sobre essa experiência.

Resposta: Um SONHO que se concretizou! Uma IDEIA que saiu do papel! Um projeto que nasceu de uma ideia que tive com o Jaques Haber e que a ex. Secretaria Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência de SP representada pela Dra. Linamara Rizzo Battistella abraçou! Projeto que Reconheceu empresas do mundo inteiro que apresentam Boas Práticas de Empregabilidade para Pessoas com Deficiência.

  1. Na i.Social você tem um trabalho de preparação de profissionais com deficiência física para o mercado de trabalho. A questão do “dresscode” faz parte desse trabalho? Que abordagem é dada a questão do respeito às normas da empresa em condições especiais? 

O nosso trabalho é para as pessoas com deficiência – física, auditiva e visual não somente para deficientes físicos. Acredito que quando falamos desse publico vamos além de se vestir adequadamente no ambiente corporativo. Isso também é importante, mas ainda nem chegamos nesse ponto. A nossa luta é para que as pessoas com deficiência sejam enxergadas além das deficiências que possuem. Esse é o grande Desafio! As pessoas só conseguem enxergar a limitação e não enxergam o potencial. A deficiência é uma das características da pessoa, mas NÃO é a única.

  1. Quais foram os maiores desafios e dificuldades da sua empresa? 

Muitos. Em primeiro lugar não havíamos planejado abrir uma empresa. Não nos preparamos para isso. Simplesmente aconteceu, como que num passe de mágica do destino fomos levados involuntariamente para esse caminho. Adquirir uma deficiência e, ainda, trabalhar com inclusão não estava em nossos planos.

Nos tornamos empreendedores sociais. Demoramos para entender esse conceito, afinal não sabíamos exatamente o que poderíamos fazer nem como fazer. Mas tínhamos nossa vivência e sabíamos que a minha deficiência não mudava quem eu era e que minha limitação era agravada por conta das deficiências da cidade – da falta de acessibilidade – e das pessoas que tinham muita dificuldade de enxergar a Andrea além de minhas limitações.

Da mesma forma, quando oferecíamos nossos serviços de inclusão para as empresas, éramos gentilmente recusados, pois ninguém era capaz de enxergar potencial no trabalho de pessoas com deficiência. Entendemos que o principal desafio era cultural. Era preciso transformar a cultura de que uma pessoa com deficiência era inferior ou digna de pena. Até hoje trabalhamos para modificar esses conceitos, para mostrar que todos possuem limitações, mas que possuem também potenciais e que a deficiência não impede a pessoa de levar uma vida normal.

  1. Qual a maior gratificação e satisfação no seu trabalho?

Neste ano, a i.Social completa 19 anos de trabalho e nossa maior gratificação são nossos resultados. Já ajudamos a incluir mais de 15.000 pessoas com deficiência no mercado de trabalho em mais de 800 grandes empresas pelo Brasil.

Em cada uma dessas pessoas sentimos que tivemos nossa pequena contribuição para impactar positivamente suas vidas. Sabemos, pela nossa vivência, a força que o trabalho traz na reabilitação física e emocional na vida de uma pessoa com deficiência. Por isso elegemos como nosso foco a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, pois entendemos que este é o melhor caminho para a inclusão de fato. O trabalho traz autonomia, poder aquisitivo e propicia convivência entre todos ajudando a diminuir os pré-conceitos.

  1. Como é sua relação com a sua imagem? O que é importante na escolha do que vestir?

Sou muito bem resolvida! Aceito minha condição e vivo bem como ela. Quando isso acontece de verdade a imagem que passamos para as pessoas é positiva.

Eu amo moda… Tenho meu próprio estilo. Sou super vaidosa e me cuido para isso. Procuro roupas estilosas mas que tambén sejam confortáveis já que tenho que ficar sentada o dia todo.

Importante na escolha do look: conforto, ter sua identidade, estar de acordo com a hora do dia e local, ser pratico, mas nunca perder a elegância.

  1. Com quais restrições você tem que lidar para se apresentar tão jovial e tão bem vestida?

São poucas as restrições para estar bem vestida. As pessoas acham que só porque a pessoa se torna deficiente não pode estar na moda rs…

Tipo não uso macacão e body  porque para tirar e pôr dá muito trabalho.

  1. Que recomendação você poderia dar para consultores de imagem e estilo que gostariam de trabalhar com pessoas com deficiência?

Muitas. Acho um super campo a ser explorado mas para isso precisa estudar esse campo e se especializar.

  1. Qual seria sua causa maior hoje?

A construção de uma sociedade de fato inclusiva, que propicie igualdade de oportunidades para todos independente de deficiência, raça, gênero, idade, sexualidade, religião ou qualquer outra característica.

  1. Como fazer as pessoas se envolverem na sua causa?

Vejo que meu trabalho diário à frente da i.Social é minha principal forma de contribuir para uma sociedade mais inclusiva. Para isso me esforço continuamente para mostrar que apesar das diferenças cada um possui capacidades, habilidades e talentos individuais. O que precisamos é diminuir o preconceito e ampliar o acesso a informação de qualidade.

Ampliar a convivência entre pessoas diferentes contribui para a compreensão de que a diversidade humana deve ser valorizada. No caso específico do nosso trabalho nos esforçamos para mostrar para as empresas que ao contratar uma pessoa com deficiência é preciso enxergar além do cumprimento da Lei de Cotas e entender que sua experiência de vida pode contribuir para um ambiente de trabalho melhor, mais humano e democrático. E que visões de mundo diferentes podem ser combustível para a criação de produtos e serviços mais completos, soluções melhores e ideias novas.

  1. Qual seria sua mensagem de incentivo para as pessoas?

Minha história de vida mostra que não importa sua condição é possível viver uma vida normal, repleta de realização e felicidade. Hoje estou casada com o Jaques e temos dois filhos, o Guilherme e o Leonardo. Ainda mais nos sentimos privilegiados por ter encontrado propósito em nossas vidas. O trabalho à frente da i.Social ajuda outras pessoas em situações semelhantes à minha a se superarem diariamente e isso não tem preço. Hoje posso dizer que sou grata por ter passado por tudo que passei e passo diariamente. Enxergo a cadeira de rodas como minha aliada. E deixo minha mensagem final:

Não importa sua condição, sempre é possível dar a volta por cima!


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Andrea Schwarz – 42 anos presidente e sócia fundadora da i.Social

Formada em Fonoaudiologia pela PUC de São Paulo. Desde 1999 atua como empreendedora social.

Em 1998, Andrea se tornou cadeirante devido a uma malformação congênita na medula espinhal. Esta vivência a inspirou a criar a i.Social. O foco de seu trabalho é a inclusão no mercado de trabalho.

Sua experiência como gestora no desenvolvimento, implantação e coordenação em mais de 800 Programas de Inclusão em grandes empresas trouxe uma visão ampla sobre o tema e serviu como base para escrever o livro “COTAS – Como Vencer os Desafios da Inclusão de Pessoas com Deficiência”, além de outras duas publicações Guia SP Adaptada e Guia Brasil Para Todos.  Através da i.Social auxiliou 18 mil pessoas com deficiência a se empregar. É idealizadora e consultora do Prêmio Melhores Empresas para Trabalhadores com Deficiência realizado pela Governo do Estado de São Paulo e do Reconhecimento de Boas Práticas de Inclusão projeto realizado pela Missão Brasileira na ONU, Governo do Estado de São Paulo e Organizações das Nações Unidas.

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