Desde os antigos gregos a Ética é estudada filosoficamente, buscando conhecer as relações entre os seres humanos, entre estes e a natureza e seu modo de ser, de pensar e de agir. Doutrinas éticas nascem e se desenvolvem em diferentes épocas e sociedades como resposta aos problemas básicos apresentados pelas relações entre os homens e seu comportamento moral.
Ainda que cada indivíduo siga princípios morais particulares, todas as relações precisam de um direcionamento com requisitos básicos para uma convivência saudável, seja com clientes, fornecedores ou colegas de profissão.
A consultoria de imagem, assim como muitas profissões, tem seu Código de Ética elaborado pela AICI – Associação Internacional de Consultores de Imagem do Brasil, acessível na íntegra no site aicibrasil.org, do qual todos os membros associados tomam conhecimento e se comprometem a seguir durante o exercício do ofício.
A seguir, serão expostos pontos importantes e atuais relacionados ao assunto.
RELAÇÃO COM A PROFISSÃO
Como fundamento de todo Código de Ética, as virtudes da Honestidade e do Respeito são essenciais, inclusive como forte influenciador das percepções de mercado.
Uma questão muito frequente e que tem sido fonte de conflitos com a presença massiva de profissionais divulgando seus trabalhos através de redes sociais como Instagram e Facebook são as cópias. À medida que um profissional passa a se destacar no mercado com seu trabalho, belas imagens, textos bem escritos ou eventos criativos, outros profissionais se inspiram e replicam as ideias.
De fato, a inspiração existe e é extremamente saudável, afinal ninguém nasce com ideais originais prontas. No entanto, alguns atos, muitas vezes realizados de boa-fé (sem o objetivo intencional de prejudicar) podem ser evitados, poupando o autor inicial de eventuais prejuízos de marca e até financeiros, como também evitando o efeito negativo reverberado entre colegas e potenciais clientes na percepção sobre o profissional que agiu indevidamente, afinal o público está sempre atento às imitações.
Plágio ou Inspiração?
Além de antiético, o plágio é considerado crime pela legislação brasileira, que dispõe que cada produtor de conteúdo possui seu direito autoral assegurado, devendo se colocar contra qualquer adaptação, cópia, reprodução ou tradução do seu trabalho. Portanto, copiar texto ou imagem de outrem como se fosse de sua autoria é crime de plágio. O mesmo acontece com artes modificadas, em que o profissional substitui a logomarca original, inserindo a própria no material de terceiro. Considere que bons textos e imagens levam tempo para serem produzidos e requerem dedicação. Tomar como seu este trabalho, além de atitude antiética, pode trazer consequências legais muito sérias.
Ponto importantíssimo e pouco conhecido é que o criador do conteúdo também não é obrigado a aceitar a reprodução de seu conteúdo, mesmo com créditos, se não houver autorização por escrito. Apesar de poucas demandas neste sentido por ser uma análise muito específica de cada caso, antes de repostar textos e fotos de outro profissional vale enviar uma mensagem informal pedindo a autorização deste para tanto, ou se o autor solicitar a retirada, o faça – melhor ter esta garantia e evitar problemas futuros.
Se você estiver do outro lado, como vítima de plágio, faça um registro do ato com o print da tela ou impressão do ocorrido e primeiramente tente um contato amigável. Como dito anteriormente, muitas vezes a ação acontece por falta de conhecimento e orientação, e uma mensagem enviada educadamente solicitando a retirada imediata do material de circulação poderá resolver a questão, sem a necessidade de ações judiciais.
Se inspirar em uma foto e replicá-la trazendo suas características de personalidade, ter referências de modos de escrita e linguagem específicos, estilo de artes gráficas ou reproduzir um modelo de evento de sucesso não é plágio, no entanto, pode ser visto com certo desconforto por seu autor original ou percebido publicamente (por potenciais clientes, seguidores ou outros colegas) como falta de criatividade, que indiretamente traz efeitos para qualquer reputação, algo a se considerar.
Inspiração é natural e inevitável – afinal o ser humano se inspira e replica comportamentos desde o nascimento – portanto, quanto maior for seu repertório em diferentes universos e não apenas em outros colegas de profissão (como por exemplo, na arte, história, viagens, gastronomia, fotografia etc.) maiores as chances de trazer autenticidade à sua comunicação.
Ofensa à reputação
Muitos métodos e formas de trabalho surgem a cada instante dentro da consultoria de imagem, assim como em qualquer outro ramo que envolva relacionamentos interpessoais. Seria impossível imaginar que um único profissional pudesse conhecer todos eles e elaborar opiniões técnicas sobre sua validade e eficácia, no entanto, algo completamente possível e recomendado é o RESPEITO por diferentes conhecimentos.
Também presente no Código de Ética da AICI Brasil está a orientação para que o consultor de imagem não ofenda, por meio de palavras ou ações, a reputação de outro colega, seu trabalho ou relação de negócios. O diálogo entre profissionais é extremamente saudável, gera troca de conhecimento e novos insights – algo buscado por nossa Associação com eventos como “Diálogos entre associados” onde profissionais associados discutem de forma sadia sobre seus diferentes métodos e atendimentos, compartilhando ricas experiências com todos os participantes.
Não estar de acordo com uma forma de trabalho ou não sentir conforto na aplicação de alguma técnica específica é claramente válido, no entanto, expor outro profissional de maneira negativa, ofendendo sua honra ou trabalho publicamente não é recomendado àqueles que desejam atuar de forma ética e respeitosa (com consequências que podem chegar inclusive à esfera judicial).
RESPEITO À PROFISSÃO
Com o aumento exponencial da procura por cursos e treinamentos em consultoria de imagem nos últimos anos, muitos profissionais em início de carreira e com pouca experiência decidem se aventurar na formação de outros colegas. Conforme expõe o Código de Ética, é importante que o consultor ou consultora não assuma responsabilidades profissionais para os quais não esteja apto, por treino ou experiência, ao adequado exercício.
Da mesma forma, todo profissional deve descrever corretamente eventuais classificações, títulos, formação, experiência e associações/filiações em sua comunicação pessoal e profissional, para que clientes e parceiros tenham acesso a informações claras e verdadeiras. Recomenda-se que a auto intitulação como especialista em uma área tenha fundamento acadêmico (como por exemplo, cursos de especialização, pós-graduação, etc.) ou em um período de experiência prática considerável.
RELAÇÃO COM CLIENTES
O profissional de consultoria de imagem deve definir claramente ao cliente a natureza e objetivos de seu serviço, bem como todos os custos envolvidos no processo, de preferência e quando possível por contrato escrito. Este cuidado não apenas traz transparência ao serviço como fornece garantias ao profissional de que as informações foram prestadas sem obscuridade e para qualquer imprevisto ocorrido durante o atendimento haverá previsão para resolução.
Cabe ao consultor informar qualquer circunstância especial que possa causar conflitos de interesse, como por exemplo, o atendimento de concorrentes no mercado ou políticos.
Outro ponto ético importantíssimo é o sigilo de informações do cliente, exceto quando compelidos judicialmente. Com o advento da Lei Geral de Proteção de Dados, os procedimentos de tratamento de todas as informações de clientes e fornecedores devem ter um cuidado especial. Não publique fotos, nomes e dados de clientes sem a devida autorização e concordância. Muitos têm desejo de passar por este processo de forma discreta e a exposição não autorizada pode prejudicar uma boa experiência.
PAPEL DA AICI BRASIL
Como associação profissional sem fins lucrativos devidamente registrada, a Associação Internacional de Consultores de Imagem do Brasil tem um papel orientador e incentivador do diálogo, da troca de informações e do aprimoramento profissional com a busca pelo reconhecimento e seriedade da profissão de consultoria de imagem. A AICI tem como princípios a colaboração entre profissionais e parcerias que impulsionem a atuação do consultor de imagem; a formação contínua com cursos, palestras e workshops gratuitos a associados, ministrados por profissionais brasileiros e de Capítulos da AICI de diversos outros países, estimulando a qualidade da formação de seus membros (sempre com assuntos atuais e importantes como o último treinamento sobre Diversidade e Inclusão na Consultoria de Imagem realizado em meados de 2021); excelência, com processos de certificação que validam o conhecimento relacionado a todos os pilares da consultoria de imagem: aparência, comportamento e comunicação; integridade e respeito no mercado.
Nosso Conselho Diretor, que é composto por associados voluntários (qualquer membro pode se candidatar individualmente e ser votado para os cargos a cada dois anos) está disponível para orientações e dúvidas, sendo importante destacar que a AICI não é um órgão regulatório da profissão, tampouco fiscalizador do mercado, sem competência jurídica para aplicação de multas ou qualquer outra forma de coerção.
No caso de não observância do Código de Ética por seus membros, no entanto, a AICI poderá iniciar processo interno disciplinar, conforme regulamento interno.
A AICI Brasil tem orgulho do reconhecimento advindo deste trabalho em conjunto, acumulando uma série de prêmios internacionais como: capítulo que mais cresceu, que mais realizou eventos educativos em diversos anos, eventos com mais participantes no mundo, entre outros.
Este artigo foi escrito por Renata Falcão, AICI CIC (São Bernardo do Campo/SP)
Consultora de imagem, especialista em Comunicação, Semiótica e Linguagens Visuais, com seu conceito de trabalho voltado para o entendimento do cliente em todas as suas esferas no método Estilo com Alma®, atua no ramo há quase 10 anos, após sua transição do mundo jurídico. É atual membro voluntária do Conselho Diretor da AICI Brasil 2020-2022.
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