Nunca foi sobre o vestir, sempre foi sobre o sentir. Precisamos fortificar nosso ego, para realmente vestir nossa alma.
Forte e profundo como é a profissão da Consultoria de Imagem. Quando falamos em fortificar o ego usamos toda a inteligência técnica e ferramentas, visando deixar a imagem humana mais verticalizada, alongada e forte. Já a alma, entende que o ego estando bem e saudável, a afetividade no vestir precisa se fazer presente nas cores linhas e formas de uma forma natural, leve e feliz.
O vestir nos dá muitas oportunidades para vestirmos o ego e a alma, e a cada dia somos uma tela em branco, na qual podemos adornar essa tela com uma moldura mais rebuscada, ou mais minimalista, mais colorida ou mais acromática, desejos de imagem do nosso mais puro ser.
Adornar, sempre foi um dos principais objetivos do profissional da imagem. Tudo começa na Grécia e Roma antiga, onde veremos um profissional chamado de “ornatrix”. Sua função era “ornar” reis e rainhas do antigo império. Esses profissionais eram escravos e no primeiro momento sua função era somente pentear e ornamentar a aristocracia da época.
Podemos citar um trecho do livro “História do Vestuário no Ocidente – das origens aos nossos dias”, de François Boucher, tradução André Telles editora COSACNAIFY, aonde vemos a importância do adornar e desse profissional na história da humanidade:
“Na época do Império, já fazia muito tempo que havia sido abandonada a simplicidade antiga da divisão no meio e do coque, bem como as tranças postiças, como usavam Tito Lívio e Otávia, substituindo-os por cacheados complicados, lançados por Messalina.
Esses penteados frequentemente enormes, requeriam o trabalho de uma cabeleireira (ornatrix), personagem constante das epigramas de Juvenal: era ela quem dispunha as tranças postiças ou as perucas inteiras tingidas de louro ou em negro de ébano”.
No primeiro momento esse profissional realmente tratava somente dos cabelos e penteados, afinal de contas ninguém poderia ou se atreveria a falar o que uma Imperatriz ou um Imperador poderiam vestir.
Com o passar do tempo, vemos uma evolução e a necessidade de ter alguém para dar direcionamento nas vestes, criar e vestir conforme os costumes da sociedade vigente. Um grande exemplo é a costureira, ou modista de Maria Antonieta, a conhecida Rose Bertin.
Alguns dizem que foi por causa dela e suas propostas visuais cheias de ornamentações, que costureiros e modelistas começam a ganhar status de estilistas. Ela materializava os devaneios de Maria Antonieta, mas também a aconselhava com proporções e elementos de decorações que se coordenassem entre si, ornando as vestes e o seu mais profundo ser, intenso, conturbado, refletindo no exagero de cores e formas.
Rose Bertin sempre respeitou a personalidade de Maria Antonieta e a ajudou a achar sua assinatura de estilo, a “extravagância” sincera sem medo de aparecer, talvez fortificando muito e ego, por vezes esquecendo da alma.
Andando um pouco para frente e entendendo um pouco mais a importância do profissional da imagem, no livro “As Espirais da Moda” o escritor e filósofo francês Françoise Vincent Ricard, nos fala na página 36, que no ano de 1952 numa atitude pioneira as “Galeries Lafayette” contrataram um grupo de “consultoras de moda”, encarregadas do aconselhamento ao “serviço de compra”.
As funções eram desempenhadas por mulheres da alta sociedade que conheciam o belo e sabiam como utilizá-lo, usar as ferramentas do vestir para a sociedade. Talvez hoje vejamos como uma visão um pouco “elitista” assim como a moda já foi , os nobres usavam, os serviçais se apropriavam como podiam das informações e ornamentações do vestir das altas classes.
Também é nos anos 1950, que começamos ver uma produção e consumo de massa não mais reservados unicamente a uma classe privilegiada. O modelo antigo e aristocrático que caracterizava a moda se desconstrói, agora ela está ao alcance de todas as camadas sociais, ávidas por novidades, desenvolvimento pessoal e bem-estar.
Talvez seja nesse momento que realmente surja a profissão de Consultor de Imagem, pois até então segundo Gilles Lipovetsky no seu livro “O Império do Efêmero”, editora Cia das Letras, pág. 36, até o acontecimento da produção em escala o homem preocupava-se em ornar, agora inventa com toda supremacia o conjunto do parecer. Com essa autonomia criativa surge a insegurança, com a dúvida um profissional que cure essa dor e mostre a real importância do vestir, ornamentando ou inventando uma nova proposta visual.
Mesmo que o profissional da “ornamentação”, seja ele cabeleireiro, estilista, maquiador ou consultor de imagem faça o processo manual de materializar o trabalho, seja fazendo penteados, elaborando composições visuais ou maquiagens incríveis, seu propósito é muito forte e suas estratégias são usadas em cunho do bem ao próximo.
Ornamentar é uma linda missão cheia de emoção, e é essa interpretação que precisamos entender para realmente trilharmos esse caminho, o da imagem para o real sentido do ser e sua interpretação no seu vestir. Procurando o real significado, vemos que “ornamentar” é tornar algo atraente, interessante, realçar características.
Outra citação importante para validarmos esse olhar na Consultoria de Imagem é no livro de Airton Embacher, “Moda e Identidade, a Construção de um Estilo Próprio”, editora Anhembi Morumbi, pág 23, ele nos fala:
“O homem do paleolítico (660000 a.c. a 8000 a.c.), por exemplo, usa ornamentos nsa cabeça e colares. Num consenso geral, o adorno seria o motivo mais forte para o homem usar vestimentas. E alguns dados antropológicos apontam a existência entre raças mais primitiva, de povos sem roupas, mas não sem enfeites’’.
Realmente a forma de deixar nosso corpo mais atraente, interessante, ornamentando algumas partes através dos nossos desejos, é um artifício saudável e utilizado desde o começo da nossa existência.
Símbolos e formas sempre foram importantes para passar impacto visual, e o “homem das cavernas”, poderia deixar seu corpo a mostra, mas precisava mostrar sua força colocando um “osso animal” nos seus cabelos e, mostrando que o mais forte era aquele que tinha o osso com maior estrutura e tamanho.
Podemos refletir de duas formas, os “adornos” eram símbolos de distinção social, mas também eram muito usados para a sexualidade, pensando na procriação, evolução do mundo e da espécie.
O filósofo italiano e crítico de artes Gillo Dorfles, nos falava nas suas diversas bibliografias, que nos animais os motivos de chamariz sexual são sempre fixos, (chifres, barbilhão, penas). Já nos homens são mutáveis como a moda, no entanto a moda esperta e sábia recorre a natureza para usar recursos de ornamentações equivalentes ao dos animais , uma boa reflexão para entendermos esse universo de “plumas” que estamos vivendo e revivendo através da marca italiana Gucci.
O mundo precisa de sedução, o ser humano de mais emoção no seu coração.
As plumas podem ora ornar um corpo cujo ego quer sensualizar, ora afagar uma alma que precisa novamente voar e seus sonhos realizar.
O Consultor de Imagem precisa ter uma grande sensibilidade para entender as reais necessidades de cada pessoa, a diferença entre vestir o ego e a alma e principalmente que nossa inteligência técnica expressa nos diversos elementos de design não são nada, se não tivermos inteligência emocional para respeitar o ser.
Estamos a “serviço” do outro e a nobreza dessa profissão se faz em realmente servir e transformar nossos clientes em reis e rainhas, mesmo que seja por alguns instantes, mas mostrar que a beleza é infinita e pertence a todos de forma única.
Este artigo foi escrito por Cris Carvalho:
A gaúcha Cris Carvalho é formada em Moda e Estilo e pós-graduada em Produtos e Negócios de Moda (ambos pela UCS RS). Em seu currículo, entidades como Ecole Supériere de Relooking Por Espirit de Soi – Paris e The Style Core – Carla Mathis (USA) são alguns dos nomes que construíram seus 21 anos de carreira, validando e consolidando seu Método Ser & Sentir, pelo qual já passaram mais de 400 alunos do país e do mundo, em cursos presenciais e on-line