A glamourização da Consultoria de Imagem

A consultoria de imagem, profissão que tem o objetivo de ajudar pessoas a aprimorar sua imagem pessoal para alinhar-se com objetivos pessoais e profissionais, tem passado por uma grande transformação, principalmente no pós-pandemia. O crescimento desse mercado reflete uma crescente busca de pessoas por uma imagem autêntica, mas também levanta questões sobre a credibilidade desses serviços. À medida que mais profissionais entram nesse mercado, a essência da consultoria de imagem é frequentemente ofuscada por uma camada de glamour que pode distorcer o verdadeiro propósito desse trabalho.

Historicamente, a consultoria de imagem era um serviço exclusivo para a elite – políticos, executivos e celebridades buscavam especialistas para cultivar uma presença pública de impacto. Com a democratização desse serviço, ampliou-se o acesso, mas também vieram desafios significativos. A proliferação de ‘especialistas’ muitas vezes não qualificados levanta preocupações sobre a credibilidade do nosso mercado. É fundamental entender como a consultoria de imagem evoluiu para desfrutar tanto suas contribuições positivas quanto as complicações introduzidas pela sua popularização.

O atendimento de consultoria de imagem deve ser um serviço único, de acordo com as necessidades de cada cliente.

Quero trazer a reflexão de como a glamourização da consultoria de imagem pode comprometer a qualidade e a eficácia dos serviços oferecidos. Trazer a luz a importância de manter a integridade e a autenticidade em um campo inundado por tendências passageiras e influências externas. Ao redefinir o foco da consultoria de imagem para refletir valores autênticos e práticas sustentáveis, podemos ajudar a garantir que ela continue a ser uma ferramenta valiosa para o desenvolvimento pessoal e profissional, resistindo à superficialidade que às vezes permeia o mercado de consultoria.

Um pouco de história

A consultoria de imagem começou a ganhar relevância na década de 1970, e o lançamento do livro “Dress for Success” de John T. Molloy, contribuiu muito para esse feito. Este livro, baseado em pesquisas empíricas, “propôs que a maneira como as pessoas se vestem influencia significativamente suas chances de sucesso pessoal e profissional. Molloy introduziu conceitos que ressoaram fortemente na época, popularizando a ideia de que a consultoria de imagem poderia ser uma ferramenta estratégica para alcançar objetivos de carreira, dando início ao que conhecemos hoje como “power dressing”​.”

Durante os anos 1980, a consultoria de imagem começou a se formar mais concretamente, impulsionada pelo crescente número de mulheres ingressando no mercado de trabalho. De acordo com a plataforma de educação Universal Class “elas procuravam afirmar sua presença em ambientes predominantemente masculinos, reconhecendo que a imagem pessoal poderia ser um diferencial competitivo. Este período também viu a teoria das cores sazonais ganhar popularidade, influenciando a maneira como as pessoas pensavam sobre o estilo pessoal e a adequação de suas escolhas de vestuário às diversas estações do ano”.​

Nos anos 90, a ascensão do estilo ‘business casual’ em resposta às culturas empresariais de empresas de alta tecnologia, marcou outro ponto na história da consultoria de imagem. O relaxamento das normas de vestuário nos ambientes corporativos gerou uma nova demanda por consultores de imagem, que eram chamados para ajudar a definir a imagem corporativa e pessoal em meio a confusões sobre o que constituía um vestuário apropriado e eficaz para os negócios – sim, caro leitor, essa demanda não começou tão recentemente assim.

A diversidade é um caminho sem volta – graças a Deus!

E, claro, não posso deixar de citar as pioneiras Suzanne Caygill, Carole Jackson, Constance Dunn, Alyce Parsons, Carla Mathis, Lynne Marks, além das brasileiras Ilana Berenholc – responsável por trazer a AICI para o Brasil –, Silvana Bianchini, Rachel Jordan, Luciana Ulrich, Titta Aguiar, e tantas outras que contribuíram – e contribuem – para o crescimento da nossa profissão e que moldaram seus posicionamentos com o passar dos anos, respeitando o espírito do tempo e atualizando suas abordagens.

O que fez com que a profissão caísse na onda em que todo mundo quer ser elegante? Vamos falar mais a seguir.

Democratização do serviço – o bônus e o ônus

“Democratização é o processo de tornar acessíveis oportunidades e recursos para todos, eliminando barreiras e promovendo equidade”

Autor desconhecido

A democratização da consultoria de imagem carrega consigo tanto vantagens quanto desafios. Com a expansão do acesso a esses serviços, um número maior de pessoas pode se beneficiar de ajuda profissional para melhorar sua apresentação pessoal. Isso inclui indivíduos de diversas esferas sociais que, antes, consideravam tais serviços inacessíveis ou irrelevantes para suas vidas. A popularização também estimula a inovação na área, trazendo novas técnicas e abordagens que tornam a consultoria de imagem mais eficaz e adaptada a diferentes necessidades.

Com a barreira de entrada relativamente baixa, muitos novos consultores sem a devida qualificação ou experiência começaram a oferecer seus serviços, frequentemente sem o preparo necessário. Eles recorrem a informações datadas, sem o discernimento para atualizar sua abordagem para a época atual e sem considerar a personalidade e o contexto de vida do cliente. Tudo isso para que aquela pessoa, que procurou uma consultoria que lhe ajude a se expressar de maneira autêntica, ‘tenha um visual elegante’ ou ‘se transforme em uma máquina de vendas através da imagética’; sério, já vi isso – e coisa pior.

Seu cliente merece se destacar pelos motivos certos. Pasteurizar sua imagem não é um deles.

Além disso, a crescente influência das redes sociais tem contribuído para a glamourização da profissão. Muitos consultores usam plataformas digitais para exibir transformações espetaculares, focando em uma estética que não condiz com a maioria das pessoas. Essa tendência pode deturpar as expectativas dos clientes e minimizar a importância do trabalho de fundo na consultoria de imagem, que inclui compreender a personalidade, as necessidades e os objetivos de vida do cliente, bem além do seu guarda-roupa​.

Principais causas desse “efeito glamourizador”

Antes de falar das possíveis causas da glamourização na consultoria de imagem, é importante fazer uma distinção clara entre glamourização e o mercado de luxo. Luxo refere-se a produtos ou serviços de alta qualidade, frequentemente associados a exclusividade. Por outro lado, a glamourização na consultoria de imagem não necessariamente implica em alto custo ou exclusividade, mas na apresentação estética exagerada ou na dramatização dos efeitos que a consultoria pode oferecer, muitas vezes focando mais na aparência do que na essência ou benefícios reais.

A confusão entre esses dois conceitos pode levar a equívocos sobre o que a consultoria de imagem realmente envolve. Enquanto o mercado de luxo é construído em torno da escassez e da qualidade, a glamourização da consultoria de imagem pode ocorrer em qualquer nível de mercado, promovendo uma versão idealizada do que a consultoria pode alcançar. Isso muitas vezes resulta em expectativas irreais e na valorização de transformações visuais instantâneas, em detrimento de um desenvolvimento pessoal mais profundo e sustentável.

Um produto de luxo pode ser apropriado no contexto de vida de uma pessoa. No entanto, o que não é aceitável é criar uma associação na qual uma imagem de sucesso dependa exclusivamente do uso de um cinto de marca famosa, que custe muitos $$$, por exemplo. Isso não representa a consultoria de imagem; é simplesmente corroborar com a ideia de que esse serviço é fútil e acessível apenas para poucos.

Agora, vamos examinar as possíveis causas do “efeito glamourizador” na consultoria de imagem:

  • Vieses Inconscientes

Os vieses inconscientes do profissional de imagem podem influenciar as recomendações feitas aos clientes, perpetuando estereótipos de moda e beleza. Esses vieses podem conduzir a padrões estéticos específicos que não necessariamente correspondem às necessidades ou identidades dos clientes.

Ao seguir tais padrões, o consultor pode, inadvertidamente, priorizar tendências de moda em detrimento do conforto ou da preferência pessoal do cliente, comprometendo a autenticidade da consultoria. Além de ajudar a manter enraizado preconceitos e discriminações.

  • Comercialização

A necessidade de vender seus serviços pode levar consultores a enfatizar excessivamente o aspecto visual das transformações. Isso pode resultar em promessas de resultados rápidos, mais alinhados com uma lógica de venda do que com a realidade do processo de consultoria de imagem.

Essa ênfase na comercialização pode obscurecer a importância de uma abordagem mais holística, que considera todos os aspectos da imagem e da comunicação do cliente, incluindo linguagem corporal e comportamento.

  • Influência da mídia e celebridades

A mídia e as celebridades desempenham um papel significativo nas expectativas públicas sobre imagem. A constante exposição a estilos de vida idealizados e às aparências perfeitas pode criar uma pressão para que os serviços de consultoria de imagem reproduzam esses ideais inatingíveis.

Essa influência pode levar os consultores a adotar e promover estilos que não são necessariamente aplicáveis ou desejáveis para a maioria dos clientes, mas que são populares ou vistas como aspiracionais.

Nem sempre o que está em voga serve para o seu cliente.

Conclusão

À medida que a consultoria de imagem continua a evoluir, é crucial reconhecer e combater a tendência de glamourização que ameaça a credibilidade e a eficácia desta prática. Este fenômeno distorce a verdadeira essência da consultoria de imagem e também prejudica a percepção de seu valor real. Profissionais e clientes devem estar atentos para assegurar que a autenticidade não seja sacrificada em favor de uma imagem superficialmente atraente.

Encorajo que todos os consultores e consultoras de imagem adotem práticas mais éticas e centradas no cliente. É essencial que o foco seja na promoção de uma imagem que reflita verdadeiramente a identidade e os valores do indivíduo, em vez de se conformar a padrões estéticos efêmeros promovidos pela mídia e pela cultura popular. O consultor deve fortalecer a confiança do cliente através do autoconhecimento e da autenticidade, destacando-se no mercado de consultoria pela sua credibilidade e pelo respeito às necessidades individuais.

Escuta ativa e empatia são habilidades comportamentais fundamentais que um consultor de imagem precisa desenvolver.

Ao permanecerem fiéis a esses princípios, os consultores de imagem podem assegurar que sua profissão continue a ser respeitada e valorizada como uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento pessoal e profissional. A consultoria de imagem deve ser uma ponte para o auto empoderamento, onde a aparência externa é apenas um dos elementos que ajudam os indivíduos a alcançar seus objetivos e expressar sua verdadeira essência.

Bibliografia

London Image Institute – www.londonimageinstitue.com

Dress for Succes – John T. Molloy

Universal Class – www.universalclass.com

Imagens – Canva


Este artigo foi escrito por Clara Laface

Com diversas certificações nacionais e internacionais, atua desde 2019 como consultora de imagem e estilo pessoal e profissional. Sua missão é elevar a presença e impulsionar a carreira de homens e mulheres usando a imagem pessoal como ferramenta. Com uma abordagem que ressalta a essência individual, ajuda pessoas a refletir sua identidade e valores em todas as áreas da vida, promovendo uma transformação que vai além do vestuário para tocar no bem-estar e na confiança própria.

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