Liberdade no uso da cartela de cores: a nova era da análise cromática

O conforto tem formas, O AMOR CORES. Uma saia foi feita para cruzar as pernas e uma manga para cruzar os braços.

Coco Chanel

A frase que abre esta reflexão foi escolhida como tema do meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da graduação em Moda e representa significativamente a paixão que tenho por cores, há muito precedendo o início do trabalho com a Análise Cromática. 

Para trabalharmos com Análise de Cores, antes de mais nada, é necessário ter paixão, além de aprofundamento de estudo aliado ao desenvolvimento de habilidade através do treino do olhar, o que independe do método utilizado.

O impacto de novas tecnologias, como exemplificado a seguir, e dos estudos mais recentes sobre o futuro da Consultoria de Imagem, especialmente no que se refere à Coloração Pessoal, têm levado a inúmeros questionamentos sobre a liberdade de escolha de cores, sem estar atrelada à sua cartela, o que nos leva a analisar a coloração presencial versus a coloração digital, acelerada especialmente por causa da pandemia COVID-19. Isso mostra, também, o quanto o mercado está interessado na Coloração Pessoal.

Tenho percebido, em minha prática, que a Coloração Pessoal funciona, muitas vezes, como a porta de entrada para o processo de Consultoria de Imagem. 

Ao meu ver, o melhor método é aquele que liberta de regras engessadas, que faz ver além do lugar comum e que pode promover um entendimento mais amplo do assunto. O importante é pensar no que faz sentido para você, de forma que a cartela serve como um guia para que a pessoa entenda suas características de pele e saiba dos possíveis efeitos positivos, como a valorização dos traços, dentre outros.

Nesse contexto, entendo que o digital seja mais uma possibilidade, porém precisamos entender de forma adequada o básico da Coloração Pessoal, amadurecer previamente o olhar na análise prática presencial, para depois entrarmos confiantes no digital. Realizo Análise de Cores de forma presencial, o que não significa estar fechada a novas possibilidades. Devemos nos manter atentos ao mercado e ao comportamento do consumidor.

O processo de Análise Cromática, realizado presencialmente, ocorre por percepção visual e está associado a experiências pessoais, por isso há tanta diferença de diagnósticos entre profissionais da área. Já o equipamento tecnológico é capaz de proporcionar uma medição mais interativa ao público como, por exemplo, o uso dos óculos Zozoglass, “cobertos com amostras de cor e marcadores, detectam o tom de pele quando ligado a um smartphone para recomendações personalizadas de cosméticos no Zozotown, o maior site de moda online do Japão”[1]. 

Todavia, a tecnologia pode não ser tão fidedigna quanto um olhar bem treinado sob a luz correta, na realização de uma Análise Cromática presencial. Basta percebermos a diferença de tons de cores que pode existir entre as telas de dois celulares de uma mesma marca, porque as calibragens são diversas. Como garantir a segurança do diagnóstico correto? 

Creio que pensar mais na tecnologia e se adaptar a mudanças seja um caminho sem volta, é o espirito do tempo (zeitgeist).  Num futuro próximo, talvez o diagnóstico possa ser comunicado por aparelhos, unindo o melhor dos dois mundos, mas cabe a nós o papel consultivo de ensinar o cliente a usar o que lhe foi diagnosticado, ou seja, a habilidade de juntar as peças e traduzir em conhecimento aplicável, oferecendo uma experiência única para a pessoa, de forma a montar o quebra cabeça, direcioná-la e orientá-la de forma personalizada às suas necessidades e o seu desejo de imagem. 

Através da experiência pessoal e da percepção sobre as cores, devemos incentivar as pessoas a expressarem a sua essência e personalizar as suas composições, ainda que diagnosticadas através de tecnologia. A preferência por determinadas cores revela muito sobre a nossa personalidade. Portanto, respeitar escolhas se torna uma condição indiscutível, embora devamos explicar as características de cor que melhor harmonizam com a pele do cliente e estimular a pessoa sem limitá-la. Considero, exemplificando, deveras interessante a forma como Johannes Itten recomendava a seus alunos a realização de um exercício de elaboração com as cores que menos gostavam, ou que julgavam não combinar, a usá-las com maior frequência. O resultado muitas vezes os surpreendia com associações de cores inusitadas que eles nem imaginavam. Isso é sintetizado num trecho extraído da leitura do livro de Lilian Ried Miller Barros, “A Cor no Processo Criativo” [2]:

“A cor é um fenômeno fascinante. Sua presença no mundo visível exerce incontestável atração sobre nós, despertando sensações, interesse e deslumbramento. Nos oferece infinitas possibilidades de combinar tons, misturando matizes e produzindo composições atrativas. Impactantes ou tranquilizantes.”

Por fim, será o fim da coloração ou apenas o início de uma nova era? Este é o questionamento lançado por Clarissa Bueno [3]. Ao meu ver, acredito que seja o início de uma nova era no que toca à Coloração Pessoal. A cartela de cores será sempre um guia, mas não a regra obrigatória, pois o cliente possui liberdade de uso diante do que lhe for diagnosticado no processo de Análise de Cores, seja em meio presencial ou digital, uma vez que o respeito à escolha informada é essencial para a continuidade do trabalho do Consultor de Imagem.



1. PÚBLICO COMUNICAÇÃO SOCIAL S.A. Há uns óculos que calculam o tom de pele e ajudam a comprar cosméticos online. Moda. Ímpar. 29 de janeiro de 2021. Disponível em: https://www.publico.pt/2021/01/29/impar/noticia/ha-oculos-calculam-tom-pele-ajudam-comprar-cosmeticos-online-1948465. Acesso em: 03 de out. de 2021.

2. BARROS, Lilian Ried Miller. A cor no processo criativo: um estudo sobre a Bauhaus e a teoria de Goethe. São Paulo: Editora Senac, 2006. Pág. 15.

3. BUENO, Clarissa. Consultora S|A. Aulão Semanal #33 – Será o fim da análise de coloração? Ou apenas o início de uma nova era? Setembro de 2021. YouTube. Disponível em: https://youtu.be/_Zay2Jmt-kY. Acesso em: 03 de out. de 2021.


Este artigo foi escrito por Zoraia Lahude

Designer de Moda pela Universidade de Caxias do Sul. Especialista em Análise de Cores e Estilo, com formação por Studio Immagine, Lilian Ried, Aysha Correa, Stylecore Institute, Cris Benvenutti, Letícia Becker e Cris Alves. Consultora de Imagem pela Ecole Supérieure de Relooking de Paris.

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